sábado, 9 de fevereiro de 2013

CRÔNICA INTERESSANTE DO DIÁRIO DE SANTA MARIA


CRÔNICA | J.Bicca Larré
·         Único consolo
Quando se fica velho por muito tempo viver, quando há muito estamos aposentados, deve ocorrer a todos como ocorre comigo. Tenho o dia para pensar e a noite para as vigílias da insônia e para, afinal, sonhar. E têm sido curiosos e nítidos os meus sonhos. Sinto que meu espírito se desprende da minha matéria envelhecida e sai por aí, a visitar lugares e a conviver com outras almas andarilhas. Tenho sonhado muito, pois a tragédia de Santa Maria me tornou sonolento e abatido.

Tenho sonhado sonhos de dor e desespero, mas também sonhares consoladores, de paz e de esperanças. Sou firmemente crente nas teorias reencarnacionistas. Sou espiritualista convicto da prevalência do espírito, que é eterno, sobre a matéria, que é efêmera. Não consigo entender a mecânica divina a não ser por essa ótica. Creio mais: que o espírito evolui sempre, sem fazer recuos. Quanto muito, pode interromper a sua evolução e levar-nos ao resgate de novas experiências positivas. Como uma espécie de repetição de ano, quando somos estudantes.

Ontem, acordado do sonho, senti-me confortado e bem menos dorido. Foi uma semana inteira de estupor e de pena dessas criaturinhas que tiveram seus jovens e esperançosos dias ceifados na tragédia do desencarne coletivo. Foram sete dias de fraternidade e de solidariedade com as mães, os pais, os irmãos, os namorados, os colegas e os amigos que ficaram sofrendo, gemendo, chorando pela brusca e inesperada partida de seus entes mais queridos.

O sonho que tive ontem reconfortou-me e, contando-o a quem lê esta coluna, pretendo confortar aqueles que ainda sofrem e não conseguem entender como e por que essa mortandade aconteceu.

Dr. José Mariano da Rocha Filho e eu nos encontramos, e ele me surpreendeu com o seu raciocínio: “238 jovens heróis de nossa Santa Maria! Eles, mesmo inconscientemente, imolaram-se por uma causa nobre e fraternal! O seu sacrifício não foi em vão. Perderam a vida como soldados que sucumbem em pleno campo de batalha na defesa de uma causa nobre. Foram chamados para morrer lutando contra a ganância, contra a incúria, contra a indiferença, contra a leniência, contra a corrupção, contra o desrespeito pela vida, contra a falta de solidariedade das pessoas. Graças a esses jovens heróis, nunca mais ninguém ficará indiferente aos valores humanos. As faculdades que eles não conseguiram completar, cursarão agora, neste plano superior da universalidade divina. Foi um custo muito alto para os familiares que ficaram, mas haverá um reencontro festivo, mais adiante. 238 jovens caíram bradando em nome de milhões de outras vidas que ficaram. E o seu grito foi tão alto, tão intenso e tão eloquente, que atingiu e despertou a sensibilidade de todos, em Santa Maria, no Rio Grande, no Brasil e no mundo. Deus haverá de abençoar a todos, principalmente familiares e amigos, com bênçãos de paz e de conforto.”

Foi o que me disse o espírito de Mariano da Rocha, no sonho em que me encontrei com ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário