quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008


Todo país ou todo o país? Tem diferença?
Por Paulo Ramos
Uma das muitas matérias sobre os tais cartões corporativos do governo federal trazia esta frase:

- Em Curitiba, houve 18 gastos, em um total de 37 no ano passado em todo país

"Todo o país" significa o país inteiro (um só, portanto).

"Todo país" é o mesmo que "qualquer país".

Houve outra construção semelhante na edição de hoje do jornal "Folha de S.Paulo" (reproduzo o trecho já com a alteração):

- Como nem todos os estabelecimentos aceitam cartão, foi fixado um teto para saques segundo a natureza de despesa

Nessas situações, é necessário perceber, pelo contexto, de qual caso se trata.

E o contexto, no primeiro trecho, indicava que se tratava de algo percebido no país inteiro (o Brasil, no caso):

- Em Curitiba, houve 18 gastos, em um total de 37 no ano passado em todo o país

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Texto interessante para reflexão.


Ensinar a ler e a escrever (bem), por Gesualda dos Santos Rasia*

Dados estatísticos recentes dão conta de que o Brasil lê e escreve mal, sem falar no também lamentável título de um dos piores do mundo em desempenho matemático. Língua Portuguesa e Matemática são os pilares para a construção das demais especificidades do conhecimento, pois capacitam os sujeitos a ler e a raciocinar. Mas se os dados estatísticos mostram que tal não está ocorrendo, então algo está errado.


Em artigo publicado no último dia 13 de dezembro, sobre o ensino de língua portuguesa, defende-se que um dos problemas residiria na falta de seqüencialidade lógica na abordagem dos conteúdos desse componente curricular: fonema - letra -sílaba - vocábulo - oração - período - parágrafo e texto.


Gostaria de relativizar essa proposição, defendendo que a escola deve priorizar as práticas de leitura e de escrita, sempre com vistas ao conhecimento dos recursos que a língua disponibiliza, para que os sujeitos deles se apropriem, utilizando-os nas mais diversas situações e com vistas a diferentes propósitos. Não estou dizendo que não se trabalhem todas as outras instâncias do conhecimento lingüístico, mas não necessariamente numa perspectiva seqüencial. Penso que faz muito mais sentido partir de unidades maiores, contextualizadas, para chegar ao conhecimento das estruturas mínimas. Nessa perspectiva, entendo que texto, por excelência, deva ser o eixo condutor do trabalho com língua portuguesa, e de cujos fios possam ser puxados os demais conhecimentos lingüísticos, ao longo do trajeto e no devido tempo.


Outra questão problematizada no artigo citado é o fato de professores passarem conceitos equivocados a seus alunos. Entendo que professor de língua (assim como de outra área qualquer) tem que conhecer profundamente seu objeto de trabalho, não para simplesmente repassar conteúdos, mas principalmente para poder constituir espaços de ruptura e de emancipação com seus alunos. É preciso demarcar, também, que enquanto este país não investir em livros abundantemente e em políticas de leitura consistentes, às quais as escolas engajem-se propositivamente, o conhecimento meramente formal da língua será totalmente insípido.


Oxalá nossas crianças possam, um dia, dizer, como Marcel Proust: "Talvez não haja na nossa infância dias que tenhamos vivido tão plenamente como aqueles que pensamos ter deixado passar sem vivê-los, aqueles que passamos na companhia de um livro preferido".

* Professora do Curso de Letras da Unijuí